Cultura castreja

09/06/2013 18:14

Reconhecida pelos seus povoados amuralhados no topo de montes, com casas circulares, e pela sua cerâmica, esta cultura termina com a aculturação romana e com a movimentação das populações para a planície litoral, onde a forte presença dos Romanos, a partir de século II a.C., é visível nos vestígios das villas romanas.

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Citânia de Sanfins. Foto de Isidro Vila Verde

 

Um castro é um tipo de povoado existente na Península Ibérica, característico da Idade do Ferro, de tipo defensivo, com estruturas predominantemente circulares, revelando desde cedo a implementação de uma «civilização da pedra», quer nas zonas de granito ,quer nas de xisto.

Uma cividade (substantivo feminino antigo de cidade) ou citânia é um castro de maiores dimensões e importância, habitado continuamente. Além de terem relevância militar, eram também centros comerciais e artesanais.

Castros e citãnias, em Portugal e Espanha

A cultura castreja do Noroeste peninsular apresenta uma forte personalidade no quadro da Proto-História europeia. A sua originalidade foi já reconhecida pelos autores clássicos, em especial pelo historiador e geógrafo grego Estrabão (64-63 a.C. – 24-25 d.C.), do tempo dos imperadores Augusto e Tibério.

Durante o desenvolvimento da Cultura Castreja, que percorre o I. Milénio a.C., desde pequenos povoados do final da Idade do Bronze até ao aparecimento de grandes aglomerados urbanos, no final da Idade do Ferro, com a Citânia de Briteiros, esta cultura conheceu, do mesmo modo que as civilizações europeias congéneres, importantes inovações, que determinam os aspectos económicos, sociais e espirituais mais marcantes desta "primeira Europa":

  • complexificação e hierarquização da sociedade e a problemática das origens do Estado;
  • movimentos migratórios e as relações entre os povos, com o alargamento dos intercâmbios de longa distância, atlânticos, mediterrânicos e continentais, relacionados com a Antiguidade clássica e o mundo céltico;
  • formação de famílias linguísticas e a identificação de entidades étnicas proto-históricas, ainda não conhecedoras da escrita mas contemporâneas de outras civilizações que a utilizavam;
  • processos de proto-urbanização e urbanização;
  • especialização do artesanato, nomeadamente na metalurgia e na cerâmica;
  • aparecimento de um novo reportório de expressões simbólicas da predominância masculina, como se evidencia na arte castreja do Norte de Portugal.

 

O mundo dos castros: as palavras de Estrabão

 

As povoações das montanhas vivem durante os dois terços do ano da colheita da bolota do carvalho. São secos e esmagados. Faz-se depois uma farinha para fazer um pão que se conserva muito tempo. Bebem geralmente cerveja, raramente vinho pois o disponível é consumido depressa nos banquetes familiares. Utilizam manteiga em vez de azeite. Celebram os banquetes sentados : cada convidado tem um assento reservado, contruído ao longo do muro. Cada um se senta em relação a idade e a posição social, e depois é disposta a comida na mesa. Quando se começa a beber, os homens dançam, todos agrupados ao som da flauta ou baixando-se e saltando alternadamente.Os homens vestem-se com uma grande capa preta que serve também de cobertura quando dormem nos colchões feitos de ervas e folhas secas. As mulheres utilizam casacos e vestem-se com bordados de cores vivas.Alguns povos servem-se de moedas, de prata para pagar ou fazem trocas de mercadorias.Assim vivem as populações montanhosas. Falo das que se seguem ao longo da costa norte da Ibéria, os Callaicos, os Asturos e os Cantabros, até ao país dos Bascos e os Pirinéus. Todos vivem da mesma maneira.


Estrabão, Geografia, III, 3, 5-7

“O Castro de Monte Mozinho”

“Um castro: visita virtual”